sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A MULHER DAS DUNAS

"Louis não conseguia dormir.Virou-se na cama para ficar de bruços e,enterrando o rosto no travesseiro,esfregou-se nas cobertas quentes como se estivesse deitado em cima de uma mulher.Mas quando a fricção aumentou a febre do seu corpo,ele se deteve.
Levantou-se e consultou o relógio.Duas horas.O que poderia fazer para aplacar aquela febre?Saiu de seu estúdio.A lua estava brilhando e ele podia ver claramente as estradas.Estava numa cidadezinha de praia na Normandia,cheia de pequenos bangalôs que as pessoas podiam alugar por uma noite ou uma semana.Louis saiu vagueando,sem destino.
Após algum tempo,ele viu que um dos bangalôs estava iluminado.Ficava no meio do bosque,isolado.Intrigou-o o fato de ver alguém acordado tão tarde.Aproximou-se sem fazer barulho,os pés mergulhados na areia fofa.As persianas estavam abaixadas,mas não tão cerradas que ele não pudesse enxergar dentro do quarto.Seus olhos se depararam com a mais espantosa das cenas: uma cama muito larga,profusamente coberta por travesseiros e cobertores amarrotados,como se ali já tivesse sido o cenário de uma grande batalha;um homem,aparentemente encurralado em uma pilha de almofadas,como se tivesse sido empurrado até ali após uma série de ataques,reclinado como um paxá em um harém,muito calmo e contente,nu,com as pernas dobradas;e uma mulher,também nua,que Louis só podia ver de costas,contorcendo-se diante do paxá,requebrando-se e desfrutando um tal prazer do que quer que estivesse fazendo com a cabeça entre as pernas dele,que sua bunda tremia toda,as pernas tensas como se estivesse a ponto de saltar.
De vez em quando o homem colocava a mão na cabeça dela,como que para restringir seu frenesi.Ele tentou se afastar.Mas aí,então,ela pulou com grande agilidade,ajoelhando-se sobre o seu rosto.Ele não mais se moveu.Sua cabeça estava diretamente embaixo do sexo dela,que,com o estômago curvado para fora,mantinha-se a uma certa distância dele.
Como o homem estava preso,era ela quem teria de se mover para ficar ao alcance de sua boca,que ainda não a tocara.Louis viu o sexo do homem erguer-se e crescer e,com um abraço,ele tentou puxá-la para baixo.Mas a mulher permaneceu a curta distância,olhando,desfrutando o espetáculo de seu belo estômago,pêlos púbicos e sexo tão perto da boca dele.
Depois,lentamente,ela se moveu ao encontro dele,com a cabeça sempre inclinada,para observar a fusão da boca do homem com o seu sexo.
Por longo tempo mantiveram aquela posição.Louis ficou tão excitado que teve que deixar a janela.Houvesse permanecido mais tempo teria que se jogar não chão e satisfazer o desejo que o consumia,e isso ele não queria fazer.
Começou a achar que em cada um daqueles bangalôs estava acontecendo algo de que ele gostaria de compartilhar.Caminhou mais rápido,perseguido pela imagem do homem e da mulher,a barriga firme dela arqueada sobre o parceiro...
Até que alcançou as dunas de areia e a solidão completa.As dunas brilhavam como se estivessem cobertas de neve,na noite muito clara.Por trás delas ficava o mar,cujo movimentos rítmicos podia ouvir.Seguiu caminhando sob o luar.E viu a figura de uma mulher andando a sua frente,ágil e rapidamente.Ela usava uma espécie de capa,que o vento enfunava como uma vela e que parecia carregá-la.Jamais conseguiria alcançá-la.
Ela estava se dirigindo para o mar.Louis seguiu-a.Caminharam pelas dunas de prata ainda por longo tempo.Na beira do mar,ela se libertou das roupas e ficou nua na noite de verão.Correu até a arrebentação.Imitando-a,Louis também se despiu e entrou correndo na água.Foi só então que ela o viu.Primeiro ficou imóvel.Mas,quando viu com clareza o seu corpo jovem,sua bela cabeça,seu sorriso,não ficou assustada.Louis aproximou-se nadando.Sorriram um para o outro.O sorriso dele,mesmo de noite,era deslumbrante;o dela também.Quase que não podiam distinguir outra coisa que não seus sorrisos brilhantes e os contornos de seus corpos perfeitos.
Ele se aproximou mais.Ela permitiu.De repente,ele nadou com habilidade e graça por cima do seu corpo,tocando nele e passando por cima.
Ela continuou a nadar,e Louis repetiu a passagem.Depois ela ficou em pé e ele mergulhou e passou por entre suas pernas.Os dois riram.Ambos se moviam com facilidade dentro d'água.
Ele estava profundamente excitado.Nadava com seu sexo duro.Aproximaram-se um do outro como se quisessem se esmagar em uma luta.Ele puxou o corpo dela para junto de seu e ela sentiu como estava duro seu pênis.
Ele o colocou entre as pernas dela,que o segurou.As mãos de Louis exploraram seu corpo,acariciaram-na por toda parte.Depois,mais uma vez,ela se afastou,e ele teve que nadar para alcançá-la.De novo,colocou o pênis entre as pernas dela,agora apertando-a com mais firmeza e tentando penetrá-la.Ela se libertou e saiu correndo para as dunas de areia.Pingando,cintilando,rindo,Louis correu atrás dela.O calor da corrida o incendiou de novo.
Depois,no momento em que mais a desejava,sua potência o abandonou,de repente...Ela continuou deitada,molhada e sorridente,e o desejo dele definhou.Louis ficou sem saber o que pensar.Há dias que andava excitado.Queria possuir aquela mulher e não podia.Sentia-se profundamente humilhado.
Para sua estranheza,a voz dela soou extraordinariamente terna.
-Há bastante tempo - disse. - Não vá embora.Está lindo aqui.
O calor dela o contaminou.Seu desejo não voltou,mas foi gostoso senti-la.Seus corpos estavam unidos,barriga contra barriga,pêlos sexuais misturados,os seios dela pressionando seu peito,sua boca colada na dele.
Devagar,ele foi se afastando para poder contemplá-la - suas pernas longas,esbeltas,bem torneadas,seus pêlos púbicos tão generosos,sua imaculada pele tão clara,os seios tão grandes e bem erguidos,o cabelo comprido,a boca sorridente.
Louis estava sentado como um buda.Ela se curvou e colheu seu pênis,murcho e pequeno,na boca.Lambeu-o com ternura,delicadamente,demorando-se mais na ponta da cabeça.Aquilo começou a excitá-lo.
Louis baixou os olhos para melhor contemplar aquela boca vermelha e generosa tão lindamente empolgando seu pênis.Com uma das mãos ela acariciou seus ovos,com a outra pegou a cabeça dele,puxando-a delicadamente.
Depois,sentou-se de encontro a ele e segurou se pênis de forma a colocá-lo entre as pernas.Esfregou-o gentilmente no seu clitóris,sem parar.Louis ficou contemplando sua mão,pensando em como estava bonita,segurando o pênis dele como se fosse uma flor.A excitação aumentou,mas ele não ficou ainda duro a ponto de penetrá-la.
Louis podia ver,na abertura do sexo dela,o líquido do desejo aparecendo,brilhando ao luar.Ela continuou a esfregar.Os dois corpos,igualmente bonitos,se misturavam naquele movimento,o pênis pequeno e murcho sentindo a pele dela,sua carne quente desfrutando a fricção.
- Dê-me sua língua - pediu ela,inclinando-se sobre Louis.Sem interromper a fricção de pênis dele,beijou-o de forma a tocar a ponta de sua língua.Cada vez que o pênis tocava o clitóris,as pontas das línguas se tocavam.E Louis sentiu o calor correndo entre sua língua e seu pênis,circulando para trás e para frente.
Com a voz rouca,ela ordenou:
- Estique a língua bem para fora,para fora.
Ele obedeceu.Ela continuou gritando:
- Para fora,para fora,para fora...- obsessivamente.Quando Louis fez o que pedia,sentiu o corpo todo se arrepiar,como se também seu pênis quisesse esticar-se na direção dela para alcançá-la e penetrá-la.
Ela manteve a boca aberta,dois dedos finos em torno do pênis dele,as pernas abertas,na expectativa.
Louis sentiu um turbilhão,o sangue correndo-lhe pelo corpo,descendo até o pênis,que ficou duro.
A mulher aguardou.Não introuduziu o pênis dele imediatemente em seu sexo.Deixou que Louis,de vez em quando,encostasse a ponta da lígua na dela.Deixou o arquejar como um cachorro no cio,abrir o seu ser,esticar-se em sua direção.Louis comtemplou a boca vermelha de seu sexo,aberta e expectante e,de repente,a violência do desejo o sacudiu,completou o endurecimento de seu pênis.Atirou-se sobre ela,a língua dentro de sua boca,o pênis forçando passagem para dentro de seu destino.
Mas ele ainda não pôde gozar.Rolaram na areia por longo tempo.Por fim,se levantaram e saíram andando,carregando as roupas.O sexo de Louis continuou bem retesado,e ela se deliciou com aquela visão.De vez em quando caíam na areia e ele a penetrava de novo,deixando-a molhada e quente.E quando andaram de novo,ela à sua frente,envolveu-a nos seus braços,atirou-a ao chão,de modo que ficaram como dois cães se acasalando,apoiados nas mão e nos joelhos.Ele se sacudia dentro dela,empurrava e vibrava,beijava-a e agarrava-lhe os seios com força.
- Você quer mais?Quer mais? - perguntou ele.
- Sim,me dá mais,mas faça com que dure,não goze;gosto assim,muitas e muitas vezes,sem parar.
Ela estava molhada e febril.Andava,esperando pelo momento em que ele a jogasse na areia e a possuísse de novo,enlouquecendo-a,mas deixando-a antes que gozasse.De cada vez,ela sentia como da primeira,as mãos dele no seu corpo,a areia quente em sua pele,as carícias de sua boca e do vento.
E,quando andavam,ela segurava seu pênis ereto.Uma vez o deteve,ajoelhou-se diante dele e colocou-o na boca.Louis ficou parado diante dela,a barriga movendo-se ligeiramente para a frente.Em outra ocasião,comprimiu o pênis dele entre os seios,fazendo-lhe uma almofada,segurando-o e fazendo-o escorregar por entre aquele suave abraço.Tontos,ofegantes.vibrando com aquelas carícias,eles seguiram caminhando como se estivessem bêbados.
Até que viram uma casa e pararam.Ele suplicou para que se escondesse entre uns arbustos.Queira gozar;não queria deixá-la antes de gozar.Quanto a ela,estava por demais excitada,mas,mesmo assim,desejava se conter e esperar por ele.
Desta vez,quando Louis estava dentro dela,começou a tremer e,finalmente,gozou,com violência.Ela quase subiu pelo corpo dele para também se satisfazer.Os dois gritaram juntos.
Deitados de costas.descansando,fumando,com a madrugada começando a cair sobre eles,sentiram frio e cobriram os corpos com suas roupas.A mulher,desviando os olhos de Louis,contou-lhe uma história.
Ela estava em Paris quando tinham enforcado um radical russo que havia assassinado um diplomata.Morava em Montparnasse,freqüentando os cafés,e seguira o jugamento apaixonadamente,como todos os seus amigos,porque o homem era um fanático,dera respostas dostoievskianas às perguntas que lhe fizeram e a tudo enfrentara com grande coragem religiosa.
Naquele tempo,ainda se executavam as pessoas que tivessem cometido crimes mais graves.A execução,geralmente,tinha lugar de madrugada,quando não havia ninguém nas ruas,em uma pracinha perto da prisão da Santé,onde ficara a guilhotina no tempo da Revolução.E não se poderia chegar perto demais,por causa da polícia.Poucas pessoas assistiam a esses enforcamentos.Mas,no caso do russo,com tantas emoções agitadas,todos os estudantes e artistas de Montparnasse,os jovens agitadores e revolucionários,decidiram assistir.Ficaram acordados a noite toda,bebendo.
Ela esperara com eles,embebedara-se com eles e ficara em um estado de grande excitação e medo.Era a primeira vez que ia ver alguém sendo enforcado.Era a primeira vez que ia testemunhar uma cena repetida tantas e tantas vezes durante a Revolução.
Com a chegada da madrugada,a multidão deslocou-se para a praça e se colocou em um círculo,o mais perto do partíbulo que o cordão de isolamento sustentado pela polícia permitiu.Ela foi empurrada até um ponto que ficava apenas a dez metros do local do enforcamento.
E lá ficou,comprimida de encontro à corda da polícia,observando com fascinação e terror.Logo um movimento daquele povo todo a deslocou de onde estava,mas,mesmo assim,continuou podendo ver,na ponta dos pés.As outras pessoas a esmagagam de todos os lados.O prisioneiro foi trazido com os olhos vendados.O carrasco ergueu-se,à espera.Dois policiais seguraram o homem e,lentamente,conduziram-no pelos degraus da escada.
Naquele momento,ela percebeu que alguém a apertava bem mais que o necessário.Excitada e trêmula como estava,aquela pressão não era desagradável.Seu corpo ardia em febre.De qualquer modo,dificilmente conseguiria se mover.Estava de blusa branca e com uma saia que abotoava de lado,como era moda então - uma saia curta e uma blusa através da qual se podia ver que sua roupa de baixo era cor-de-rosa e se podia adivinhar o formato dos seus seios.
Duas mão a envolveram pela cintura e ela pôde sentir distintamente o corpo de um homem,o desejo dele duro de encontro às suas nádegas.Conteve a respiração.Seus olhos estavam fitos no homem que estava por ser enforcado,o que lhe tornava o corpo dolorosamente nervoso.Ao mesmo tempo,as mãos alcançaram os seus seios e os apertaram.
As sensações conflitantes que a invadiram deixaram-na tonta.Não se moveu,nem virou a cabeça.Os botões de sua saia foram descobertos por uma curiosa mão.E cada botão desabotoado fazia com que suspirasse ao mesmo tempo de medo e alívio.A mão esperava para ver se ela protestava,antes de prosseguir em sua tarefa.Ela não se moveu.
Depois,com uma destreza e uma rapidez que não esperara,as duas mãos giraram sua saia de modo a fazer com que a abertura ficasse voltada para trás.Imprensada no meio da multidão,tudo o que pôde sentir foi um pênis sendo lentamente enfiado pela abertura de sua saia.
Os olhos dela permaneceram fixos no homem que ia subindo as escadas do patíbulo e,a cada batida do seu coração,o pênis avançava um pouco.Passou pela saia e deu um jeito de se introduzir por dentro das calcinhas.Como era quente,firme e duro de encontro à sua carne!O condenado foi detido em cima do cadafalso e a corda foi passada em seu pescoço.O sofrimento por observar aquilo era tão grande que transformava aquele contato em algo humano,cálido,reconfortante,um verdadeiro consolo.Aquele pênis latejante entre as suas nádegas lhe parecia uma coisa maravilhosa em que se podia amparar,um símbolo de vida,enquanto a morte se desenrolava à sua frente...
Sem dizer uma palavra,o russo inclinou a cabeça para acomodar o laço.O corpo dela tremia.O pênis avançou por entre as dobras macias de suas nádegas,abrindo inexoravelmente o caminho por dentro de sua carne.
Ela palpitava de medo,e era como uma tremor de desejo.Quando o condenado foi lançado no espaço e na morte,o pênis deu uma grande salto para dentro dela,despejando os jatos de sua vida quente.
A multidão esmagou o homem de encontro a ela,que quase não podia respirar.Quando seu medo se transformou em prazer,no selvagem prazer de sentir a vida enquanto um homem estava morrendo,ela desmaiou.
Depois dessa história Louis cochilou.E,quando acordou,saturado de sonhos sensuais,trêmulo de algum abraço imaginário,viu que a mulher tinha ido embora.Seguiu suas pegadas na areia por uma boa distância,mas elas desapareceram no bosque que dava para os bangalôs e ele a perdeu.
(Anaïs Nin, in:Pequenos Pássaros)